sábado, 12 de outubro de 2013

A Angústia de Pedro

“Era noite, e em volta de uma fogueira, num pátio, eu estava reunido com um grupo de pessoas. Meu Mestre fora preso, eu o vi sendo levado. Ele me convidava diariamente a experimentar seu mundo, compartilhar de suas ideias, e seguir seus passos. E pela primeira vez, nos separamos. Enquanto lamentava o adeus da proximidade, uma criada, num lugarzinho à parte do pátio fixara firmemente seus olhos nos meus e exclamava com veemência: ‘Você estava com ele’. Entendi que ela referia-se ao Mestre, e temendo pela minha vida, deixei o meu medo esmagar a esperança que tinha depositado no Nazareno, quando disse: ‘Eu não o conheço’. Estava caminhando passos largos à um abismo que eu mesmo criei, e não dava mais pra voltar ao passado.  Um outro alguém, de identidade desconhecida, resolveu aumentar esse vazio que estava começando a ganhar vez: ‘Você é um deles’. Eu o retruquei dizendo: ‘Não sou’.  Em seguida, acabei negando-o mais uma vez. E agora, o que fazer diante de tamanho erro? Procurando a solução, me fechei em meu mundo, e nada mais ouvia, nada mais via e nada mais falava. Mas à poucos metros de distância, o canto de um galo invadiu minhas emoções e me fez inundar num oceano de lágrimas. Chorando amargamente, só precisava do perdão do meu Mestre. Não poderia encontrá-lo, não no momento. Ele havia sido conduzido ao Sinédrio. Só me restava procurar o seu olhar. Ninguém, a não ser ele, resolveria aquilo. Estávamos distantes, e essa distância parecia infinita ante à minha miséria. No meio daquela multidão, procurava o rosto machucado dele. Se não o encontrasse, não teria a quem recorrer. Não só meus lábios o havia negado, mas minha confiança em seu amor por mim. De tantos olhares à minha volta, acabei encontrando o dele. Só os dele tinha o brilho que precisava para alumiar minha vida que em mim havia se apagado. Em seu olhar, encontrei perdão, descanso, alívio, consolo. Em seu olhar, o julgo da prepotência fora despedaçado.”

- Simão Pedro.

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