“Era noite, e em volta de uma fogueira, num pátio, eu estava
reunido com um grupo de pessoas. Meu Mestre fora preso, eu o vi sendo levado.
Ele me convidava diariamente a experimentar seu mundo, compartilhar de suas
ideias, e seguir seus passos. E pela primeira vez, nos separamos. Enquanto
lamentava o adeus da proximidade, uma criada, num lugarzinho à parte do pátio
fixara firmemente seus olhos nos meus e exclamava com veemência: ‘Você estava
com ele’. Entendi que ela referia-se ao Mestre, e temendo pela minha vida,
deixei o meu medo esmagar a esperança que tinha depositado no Nazareno, quando
disse: ‘Eu não o conheço’. Estava caminhando passos largos à um abismo que eu
mesmo criei, e não dava mais pra voltar ao passado. Um outro alguém, de identidade desconhecida,
resolveu aumentar esse vazio que estava começando a ganhar vez: ‘Você é um
deles’. Eu o retruquei dizendo: ‘Não sou’.
Em seguida, acabei negando-o mais uma vez. E agora, o que fazer diante
de tamanho erro? Procurando a solução, me fechei em meu mundo, e nada mais
ouvia, nada mais via e nada mais falava. Mas à poucos metros de distância, o
canto de um galo invadiu minhas emoções e me fez inundar num oceano de
lágrimas. Chorando amargamente, só precisava do perdão do meu Mestre. Não
poderia encontrá-lo, não no momento. Ele havia sido conduzido ao Sinédrio. Só
me restava procurar o seu olhar. Ninguém, a não ser ele, resolveria aquilo.
Estávamos distantes, e essa distância parecia infinita ante à minha miséria. No
meio daquela multidão, procurava o rosto machucado dele. Se não o encontrasse,
não teria a quem recorrer. Não só meus lábios o havia negado, mas minha
confiança em seu amor por mim. De tantos olhares à minha volta, acabei
encontrando o dele. Só os dele tinha o brilho que precisava para alumiar minha
vida que em mim havia se apagado. Em seu olhar, encontrei perdão, descanso, alívio,
consolo. Em seu olhar, o julgo da prepotência fora despedaçado.”
- Simão Pedro.
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